sábado, 1 de junho de 2013

Uma imprensa falso moralista, que detona o governo federal, enquanto blinda os tucanos



A impressão que os comentaristas da imprensa mineira e nacional tentam passar para os desavisados leitores e ouvintes ou telespectadores é a de que eles, comentaristas, são guardiães dos bons costumes e de supostas verdades absolutas. Na prática, se vivêssemos uma verdadeira democracia, deveríamos submeter as falas desses personagens ao crivo da crítica. Com igual espaço. Mas, nada disso acontece. Vejamos alguns momentos dessas análises que pude ouvir hoje, entre 8h e 9h da manhã, na frequência de uma Rádio. Felizmente, não é todo dia que tenho tempo e disposição para tal. Mas, o pior é que muita gente que dispõe de tempo para ouvir tais comentaristas, não dispõe de mais tempo ainda para investigar o conteúdo dessas falas. Vejamos alguns exemplos.

De Brasília, o jornalista-comentarista dirigiu feroz ataque a tudo que de forma direta ou indireta esteja ligado ao governo federal. Nem uma palavra sequer contra governantes tucanos. Primeiro ele criticou a Dilma por ter perdoado uma dívida que países africanos, supostamente teriam para com o Brasil. Gozado, eu, como professor de História, pensava que era o Brasil e a Europa que tinham uma impagável dívida para com os povos africanos. Milhares de pessoas que habitavam aquele continente foram arrancadas à força de suas terras e trazidas para cá, obrigadas a trabalhar durante séculos como escravos, para o bem de uma elite cínica, hipócrita, que até hoje mantém o mesmo olhar preconceituoso, excludente e arrogante.

Mas, para o tal jornalista, a presidente Dilma não deveria perdoar a dívida de países pobres da África, pois este dinheiro fará falta ao Brasil.

Logo depois, na mesma linha, alguns comentaristas da Rádio aqui de Minas endossaram as palavras do jornalista global, ao citar um caso de uma cidadã brasileira que, enferma, dependeria do financiamento do estado, que negara tal tratamento. Diziam, em tom moralista: se o Brasil pode perdoar a dívida de países africanos, por que não bancar as despesas desses casos?

Vejam a sacanagem da comparação. Se dissessem simplesmente que era dever e obrigação do estado brasileiro bancar o tratamento de todas as enfermidades de todos os cidadãos brasileiros, incluindo os casos particulares que são citados na mídia, todos nós poderíamos aplaudir. Aliás, neste caso, deveriam humildemente reconhecer que, o único país da América Latina que pratica tal política universal de saúde de qualidade para todos, chama-se Cuba. Mas, aí seria demais, esperar que eles reconheçam qualquer coisa de bom daquela ilha, considerada o próprio inferno pela direita brasileira.

E por quê é uma sacanagem fazer esse tipo de comparação? Porque provoca nas pessoas simples uma indignação imediata contra o governo federal, sem qualquer chance de uma análise crítica da crítica feita pelos jornalistas. Vejam: perdoar a dívida de países mais pobres do que o Brasil, com os quais o Brasil tem uma dívida eterna, representa, em termos financeiros, muito pouco para o Brasil, mas pode ter um grande significado para aqueles povos - além do exemplo para o mundo, para que outros países mais ricos tenham a mesma conduta em relação a outros povos. Acho até que a presidenta Dilma deveria exigir uma contrapartida desses governos (estou falando sem conhecer os termos desse suposto perdão da dívida): que os governos dos países beneficiados, em contrapartida, investissem os valores não pagos ao Brasil na Educação pública, na saúde pública e no combate à fome dos seus respectivos povos. Somente isso já valeria a pena perdoar todas as dívidas do mundo entre países.

Mas, retomemos o nosso raciocínio. Tanto o jornalista de Brasília quanto os de Minas criticam o governo federal, contrapondo o perdão de uma dívida aos países africanos com os dilemas sociais que ainda existem no nosso país. O raciocínio deles é bem simplista: enquanto o Brasil não resolver todos os problemas do seu próprio povo não deveria fazer o que eles consideram grosseiramente uma espécie de caridade com os povos de outros países.

Primeiro, essa é uma visão desumana, pois separa povos, pessoas, gente, seres humanos, como se aqueles que tivessem nascido na África, ou em Cuba, fossem menos gente do que aqueles que nasceram aqui. Essa crítica é atrasada, retrocede aos primórdios em matéria de avanços do pensamento libertário universal. Essas pessoas, ao que parece, não estudaram os princípios e as lutas que deram origem às cartas que regem os direitos universais dos seres humanos. Uma pena, que pessoas assim sejam vistas como formadores de opinião e que estejam diariamente "trabalhando" a cabeça de pessoas simples, que levam a sério o que eles dizem.

Seguindo a mesma lógica dos jornalistas, que para sorte deles, não são confrontados ao vivo e em cores, pergunto o seguinte: se estão criticando a presidenta Dilma, que teve a decência de perdoar a dívida no montante de quase R$ 1 bilhão de reais dos países africanos, dizendo que esse dinheiro fará falta ao Brasil - para resolver os problemas de saúde de pessoas sem recursos, etc. -, por que não usaram essa mesma crítica quando os governantes mineiros resolveram construir uma cidade administrativa que custou quase R$ 2 bilhões, para a felicidade dos grandes empreiteiros? Não seria o caso de também dizer que, ao invés de queimar tanto dinheiro com obras faraônicas, seria melhor ou mais justo investir tais recursos com os problemas sociais de Minas?

Ou quem sabe até, vamos estender um pouco, gastar menos dinheiro em publicidade nos grandes meios de comunicação para salvar milhares de vidas? Nos últimos anos, segundo denúncia da oposição mineira, mais de R$ 1 bilhão foram gastos com jornais, revistas e TVs aqui em Minas Gerais. Verba do governo, dos nossos impostos, que é usada para tentar passar uma imagem da Minas que não existe: na propaganda, a melhor educação do planeta, a melhor saúde, um estado sem dengue, um verdadeiro paraíso.

Mas, quem disse que os comentaristas, salvo exceções, inclusive entre os jornalistas mineiros, querem esclarecer alguma coisa? Quem disse que há algum critério que se aproxime da imparcialidade? A mídia mineira e nacional não faz outra coisa a não ser detonar o governo federal e blindar os governos tucanos e seus candidatos. O que constitui um desserviço para a frágil democracia brasileira, que é construída e destruída a cada momento, com essas falas que não se prestam a uma crítica honesta e mais profunda. Que criticassem o governo federal, tudo bem, mas que dessem o direito de resposta, e que submetessem os demais governos às mesmas críticas.

E para finalizar, o jornalista de Brasília criticou a escolha que a presidenta Dilma fez de um advogado para preencher o cargo vago de ministro do STF. O jornalista selecionou o fato de que o escolhido teria sido advogado do italiano Batisti. Nem vou entrar no mérito desse caso, como fez o jornalista, sem dar qualquer direito de defesa ao atacado, já que são muitas as informações escondidas e distorcidas. Mas, o interessante é o que jornalista perguntou: quem terá pago os honorários do advogado naquele caso? Ora, que tal estendermos tal questionamento a todos os outros profissionais e personagens da república brasileira? Quem está pagando a festa que alguns poucos fazem com os recursos públicos? Quanto recebem as rádios, os jornais e as TVs do governo de Minas e de grandes empresas, e quanto pagam aos seus comentaristas e diretores? A propósito, o tal advogado escolhido por Dilma, advogou também para a ABERT, uma associação a serviço dos grandes meios de comunicação. Por que será que o jornalista de Brasília não lembrou de tal fato? Quanto ele terá recebido para defender, num dado momento, os interesses dos patrões do dito jornalista?

Ah, que falta nos faz uma verdadeira imprensa livre, ou quase, no mundo, no Brasil, e mais ainda, aqui em Minas...

Fonte: Blog do Euler
Postado por: Nelson Professor

Nenhum comentário:

Postar um comentário