quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Em greve, somos a maior esperança de uma Minas Gerais melhor


Em greve, somos a maior esperança de uma Minas Gerais melhor...

Poderia destacar diferentes momentos da nossa assembleia dos educadores, ocorrida hoje à tarde. Mas, o que mais me chamou a atenção foi uma frase da representante da Via Campesina, quando disse algo mais ou menos assim: que a greve dos educadores era a maior, talvez a única grande esperança da vitória dos de baixo sobre este governo e suas práticas. A nossa derrota, dizia, representa a derrota dos sem-terra e de todos os setores excluídos; a nossa vitória, será a vitória de todos.
Talvez ela tenha dito isso por perceber a força do nosso movimento, há dois meses em greve, resistindo com obstinação a todos os ataques de um governo que adota medidas despóticas, que reduz ilegalmente a remuneração dos educadores; que corta salários, que ameaça contratar ilegalmente substitutos para os colegas em greve; que compra a mídia para nos atacar diariamente, que usa a máquina do estado para nos massacrar...
Nada disso nos intimidou, nada disso nos fez calar, nada disso nos fez desistir dos nossos direitos. De fato, tornamo-nos uma ameaça ao poder dominante, ou aos poderes dominantes.
O nosso blog vem dizendo tranquilamente que a categoria construiu, entre a maravilhosa revolta de 2010 e a deste ano, um núcleo duro, formado por centenas de combatentes dispostos à luta por direitos legítimos e legais, até as últimas consequências. É o que estamos verificando nos dias de hoje.
O governo apostou no declínio da greve após o recesso de julho, combinado com a redução e o corte dos salários dos guerreiros e guerreiras em greve. Colheu tempestade: a greve se fortalece a cada dia. Por mais que um ou outro profissional tenha se cansado e voltado para a escola, o que se nota é que a grande maioria continua firme na luta e que a greve vem recebendo adesão de toda parte.
A última cartada do governo, a contratação de professores-tampão para substituir ilegalmente professores em greve para os alunos do 3º ano do 2º Grau é na verdade uma declaração de desespero do governo de Minas. Ele sabe que está cada vez mais sem chão, literalmente, para fugir da responsabilidade constitucional de pagar o piso.
Para uma greve que teria, segundo o governo, atingido apenas 2% da categoria, fica difícil explicar para a população porque tanto alarde, tanta publicidade paga na TV, tanto auê em torno da proximidade das provas do ENEM e dos vestibulares.
Mais uma vez, o governo joga para a torcida, tentando passar a idéia, falsa, de que está preocupado em garantir educação para a sociedade. É falso porque, se de fato estivesse preocupado em garantir ensino de qualidade para todos, como manda a Constituição Federal, teria sentado com a categoria e negociado seriamente o pagamento do piso a que temos direito pela Lei Federal.
Mas, Minas tornou-se um estado de exceção, onde a mídia relembra os piores períodos ditatoriais da república brasileira; onde os poderes constituídos tornaram-se apêndice do poder executivo, cumprindo um papel vergonhoso de linha auxiliar dos governantes de plantão, e com isso rasgando em muitos pedaços a Carta Magna inscrita em 1988.
Minas são muitas, já dizia o poeta. E talvez hoje, a Minas mais bonita seja a Minas dos educadores em greve, porque ela se tornou depositária dos mais profundos sentimentos e princípios humanos. Com elegância, com altivez e determinação, os educadores em greve desafiam tudo quanto representa a negação dos sonhos libertários perseguidos pela humanidade ao longo de muitos séculos.
Ali, caminhando ao lado dos colegas educadores, com os quais conversamos - eu, o Rômulo, o comandante Martinho, a brava bancada de São José da Lapa e Vespasiano - íamos colhendo as opiniões e manifestações dos guerreiros e guerreiras educadores de toda Minas Gerais. De Montes Claros, de Governador Valadares, de Tarumim, de Mutum, de Varzelândia, de Pedro Leopoldo, de João Monlevade, do Norte, do Sul, do Jequitinhonha, da Zona da Mata, enfim de toda Minas Gerais.
Além dos oradores que falam nos microfones, é importante ouvir também os oradores do chão da fábrica, ali na base, as lideranças e as vozes dos que constroem o dia a dia do nosso movimento. O que eu vi e ouvi desses colegas parecia uma orquestra, tal a afinação e a harmonia na produção musical. Percebi um sentido crítico, uma disposição de quem está na luta de forma muito consciente e corajosa. Colhi o abraço de uma, entre muitas e muitos guerreiros, que me dizia que na sua escola ela iniciara a greve com poucas adesões, mas que a greve vinha crescendo. Uma outra valente educadora, viajara cerca de 15 horas para estar ali na assembleia e levantar a mão pela continuidade da greve, ante ao descaso de um governo que vive num mundo de aparências pela mídia.
Um dado a ser cobrado: várias entidades e políticos que falaram durante a nossa assembleia disseram estar prontos para contribuir financeiramente com a nossa categoria, para a manutenção da greve. Seria muito bom mesmo que fizéssemos um fundo de greve para repassar aos nossos bravos guerreiros e guerreiras mais necessitados; uma contribuição, seja em forma de alimentos essenciais à sua subsistência, ou em dinheiro em espécie para bancar despesas essenciais, como água, luz e transporte.
Aqui no blog, noticiamos o final da greve em Ipatinga, após uma corajosa luta que resultou na conquista do piso proporcional do MEC e outros direitos ameaçados pelo desgoverno local; noticiamos também aqui a realidade da greve em curso na cidade de João Monlevade. Encontrei com os colegas de Monlevade lá na assembleia e eles reafirmaram a ameaça que os contratados receberam, na rede municipal, embora estes tenham um peso numérico bem inferior ao dos efetivos, e por isso a greve continua. E disseram mais: ante a ameça divulgada da caça ao governador naquela cidade, parece que ele resolveu alterar sua agenda e cancelar a visita que faria à cidade de Monlevade. Uma pena, porque os guerreiros e guerreiras da região estavam prontos para oferecer calorosa recepção ao governante que se diz professor, mas que maltrata sua suposta categoria com tanto desprezo.
Minas não será mais a mesma depois da nossa greve. A nossa luta já não se limita mais à conquista de um direito legal. Ela tomou ares de libertação das amarras que foram impostas aos de baixo nos últimos anos. E os tambores de Minas que nunca se calaram - mesmo quando os artistas oficiais da terra estejam tão sumidos ou mudos -, permanecem batendo, pulsando, a cantar aos quatro ventos, que os educadores de Minas não se curvarão. E que o piso salarial, que era antes o único e o maior objetivo da luta dos educadores mineiros, está se tornando agora apenas o começo de uma grande luta de conquistas que faremos nos próximos anos e décadas.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória, com a implantação do piso no nosso vencimento básico e mais as gratificações!
Fonte: Blog do Euler
Postado por: Nelson de Freitas Barbosa -

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